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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Guerras médicas



Guerras Médicas ou Guerras Greco-Persas são designações dadas aos conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império Aquemênida durante o século V a.C. Ocorreram entre os povos gregos (aqueus, jônios, dórios e eólios) e os medo-persas, pela disputa sobre a Jônia na Ásia Menor, quando as colônias gregas da região, principalmente Mileto, tentaram livrar-se do domínio persa.


Esta região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas durante a expansão persa em direção ao Ocidente, este poderoso império conquistou estas diversas colónias gregas da Ásia Menor, entre elas Mileto. As colônias lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas, tentaram sem sucesso libertar-se do domínio persa, promovendo uma revolta.

Heródoto deu o título de histórias ao resultado 
de suas pesquisas acerca das Guerras Médicas

Estas revoltas levaram o imperador persa Dario I a lançar seu poderoso exército sobre a Grécia continental, dando início às Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle do comércio marítimo na região.

Guerras Médicas

Após a derrota da Lídia frente aos persas (provavelmente em 546 a.C.), as cidades gregas da Jônia passaram ao domínio persa. Em 499 a.C., com o apoio de Atenas e Erétria revoltaram-se, mas foram vencidas entre 497 e 494 a.C. Em 490 a.C., Dario I (522/486 a.C.) decidiu enviar à Grécia continental uma expedição punitiva. Erétria foi arrasada e saqueada, mas os atenienses e platenses, chefiados por Milcíades (550/489 a.C.), conseguiram rechaçar os persas na planície de Maratona.

Xerxes I (486/465 a.C.), filho de Dario, comandou dez anos depois (480 a.C.) uma invasão à Grécia em grande escala. Algumas cidades gregas, lideradas por Atenas e Esparta, formaram uma coalização para enfrentar o invasor. Outras, como Tebas, submeteram-se aos persas.

Inicialmente, os persas venceram os gregos no desfiladeiro das Termópilas e em Artemísio; a seguir, invadiram e saquearam Atenas. A frota ateniense, porém, comandada por Temístocles (524 a.C./459 a.C.), conseguiu destruir a frota persa em Salamina e mudou o rumo da guerra. Meses depois, comandada pelo espartano Pausânias (510/467 a.C.), o exército da coalização grega venceu o exército persa em Plateia e pôs fim à invasão.

Os gregos conseguiram, certamente, impedir a presença dos persas em seu território. Eles continuaram, porém, influindo no relacionamento entre as cidades gregas durante todo o período clássico.

Nesse primeiro confronto (a primeira guerra médica), surpreendentemente, cerca de dez mil gregos, liderados pelo ateniense Milcíades, conseguiram impedir o desembarque de mais de vinte mil persas (alguns autores falam em 50 mil, outros em 250 mil, não se sabe precisamente o efetivo persa), vencendo-os na Batalha de Maratona em 490 a.C.

Para se defenderem dos persas, algumas cidades-estado gregas organizaram a liga de Delos, da qual se aproveitou Atenas para se sobrepor no mundo grego, pois era responsável pelo dinheiro da Confederação e passou a usá-lo em benefício próprio. Com isso, impulsionou sua indústria, seu comércio e modernizou-se, ingressando numa era de grande prosperidade, e impondo sua hegemonia ao mundo grego. O auge dessa época ocorreu entre 461 e 431 a.C., durante o governo de Péricles, por isto o século V a.C. é também chamado o "Século de Péricles".

Os persas, entretanto, não desistiram. Dez anos depois, voltaram a atacar as cidades gregas (segunda guerra médica). Estas, por sua vez, esqueceram as disputas internas que existiam entre elas e uniram-se, vencendo os persas na Batalha de Salamina (480 a.C.) e na de Plateias (479 a.C.)

Após as guerras médicas, os gregos voltaram a enfrentar-se internamente e, de 431 a 404 a.C., decorreu a Guerra do Peloponeso, entre a Confederação de Delos (liderada por Atenas) e a Liga do Peloponeso (liderada por Esparta).

Após tantas guerras, as cidades gregas ficaram debilitadas e foram conquistadas por Filipe II da Macedônia, em 338 a.C. na batalha de Queroneia. Filipe II foi sucedido por seu filho Alexandre, que ampliou consideravelmente o domínio macedônico conquistando a Síria, a Fenícia, a Palestina, o Egito, a Pérsia e parte da Índia.

Nas costas ocidentais da Ásia Menor, colônias gregas se dedicavam ao comércio, desejando substituir os fenícios. A independência destas cidades jônicas terminou quando elas caíram uma após a outra nas mãos do rei Creso, da Lídia, obrigadas a pagar tributos, a situação ficou ainda pior quando o reino de Lídia caiu nas mãos do rei persa Ciro II em 546 a.C., tendo as cidades gregas o mesmo destino.

Posteriormente, o rei persa Dario I governou as cidades gregas com tato, procurando ser tolerante, seguindo a estratégia de dividir e vencer, apoiando o desenvolvimento comercial dos fenícios, que tinham sido anteriormente submetidos a seu império, e que eram rivais tradicionais dos gregos.

Relevo do período clássico mostrando os soldados gregos em
 combate

Além disto, os jônios sofreram mais golpes, como a conquista de seu florescente subúrbio de Náucratis no Egito, a conquista de Bizâncio, chave do mar Negro e a queda de Sibaris, um de seus maiores mercados de tecidos e ponto de apoio vital para o comércio.

Destas acções, surgiu um ressentimento contra o opressor persa, sentimento que foi aproveitado pelo ambicioso tirano de Mileto, Aristágoras, para mobilizar as cidades jônicas contra o Império Aquemênida, em 499 a.C.

Aristágoras pediu ajuda às metrópoles de Hélade, mas somente Atenas (que enviou vinte barcos – provavelmente a metade de sua frota) e Erétria (na ilha de Eubeia – que aportou cinco navios), acudiram o pedido. Esparta não ofereceu nenhuma ajuda. O exército grego dirigiu-se a Sardes, capital da satrapia persa da Lídia, e reduziu-a a cinzas, enquanto que a frota recuperava Bizâncio. Dario I, enfurecido, mandou seu exército, que destruiu o exército grego em Éfeso, e afundou a frota helénica na batalha naval de Lade.

Tentando sufocar a rebelião, os persas reconquistaram, uma após outra, as cidades jônias e, depois de um longo assédio, arrasaram Mileto, matando a maior parte da população na batalha e escravizando os sobreviventes, que foram deportados para a Mesopotâmia.

Primeira Guerra Médica

Após o duro golpe dado às cidades jônicas, Dario I decidiu castigar aqueles que haviam auxiliado os rebeldes, encarregando a represália a seu sobrinho Artafernes e a um nobre chamado Datis.

Em Atenas, alguns homens já viam os sinais do iminente perigo. O primeiro deles foi Temístocles, eleito arconte em 493 a.C. Temístocles acreditava que em Hélade não teria salvação em caso de um ataque persa, se Atenas não desenvolvesse antes uma poderosa marinha.

Dessa forma, fortificou o porto de Pireu, convertendo-o em uma poderosa base naval, mas logo surgiria um rival político que impediria o resto de suas reformas. Era Milcíades, membro de uma grande família ateniense das costas da Ásia Menor. Opunha-se a Temístocles, porque considerava que os gregos deviam defender-se primeiro por terra, acreditando na supremacia das largas lanças gregas contra os arqueiros persas. Os atenienses decidiram por em suas mãos a situação, enfrentando assim a invasão persa.


A frota persa chegou por mar no verão de 490 a.C., dirigidos por Artafernes, conquistando as ilhas Cíclades e posteriormente Eubeia, como represália por sua intervenção na revolta jônica. Posteriormente, o exército persa, comandado por Datis, desembarcou na costa oriental da Ática, em Maratona, lugar recomendado por Hípias (anterior tirano de Atenas) por ser considerada o melhor lugar.

Batalha de Maratona
Segunda Guerra Médica
Temístocles retoma o mando em Atenas

O vitorioso Milcíades quis aproveitar o momento de glória para expandir o poder de Atenas no mar Egeu, e logo depois da batalha em Maratona enviou uma parte da frota contra as Cíclades, submetidas pelos persas.

Atacou a ilha de Paros, exigindo aos seus habitantes um tributo de 100 talentos, que foram negados, então a cidade foi ocupada, mas a defesa foi tão árdua que os gregos tiveram que contentar-se com uns poucos saques. Este pobre resultado começou a desiludi-los com relação a Milcíades, chegando inclusive a vê-lo como um tirano que depreciava as leis.

Os inimigos de Milcíades o acusaram de ter enganado o povo e o submeteram a um processo, o qual não pode se defender por ter sido ferido em um acidente e estar prostrado em uma cama. Ele foi declarado culpado, sendo salvo da pena capital comum nestes casos pelos serviços prestados anteriormente à pátria, mas foi condenado a pagar a elevada soma de 50 talentos. Pouco depois morreu por causa de suas feridas. Seria agora Temístocles quem tomaria o comando de Atenas.

Em 481 a.C., os representantes de diferentes polis, liderados por Atenas e Esparta, firmaram um pacto militar (simmaquia) para protegerem-se de um possível ataque do Império Aquemênida. Segundo este pacto, em caso de invasão, corresponderia a Esparta a tarefa de comandar o exército helênico, em uma trégua geral, que inclusive propiciou o retorno de alguns exilados.

Terra e água

Após a morte de Dario I, seu filho Xerxes I subiu ao poder na Pérsia, ocupando-se nos primeiros anos de seu reinado de reprimir revoltas no Egito e na Babilônia e continuando a preparação para atacar os gregos. Antes, havia enviado à Grécia embaixadores a todas as cidades para pedir-lhes terra e água, símbolos de submissão. Muitas ilhas e cidades aceitaram, mas Atenas e Esparta não. Conta-se que Esparta respondeu aos embaixadores "Terão toda a terra e água que quiserem", jogando-os em um poço. Era uma declaração de intenções definitiva.

Em Esparta, começaram a ocorrer problemas nefastos, que seriam causados pela ira dos deuses devido a este ato de insolência. Os cidadãos espartanos foram chamados para solicitar se algum deles seria capaz de se sacrificar para satisfazer os deuses e aplacar sua ira. Dois ricos espartanos ofereceram-se para se entregar ao rei persa, e se dirigiram para Susa, onde Xerxes os recebeu. Os emissários espartanos lhe disseram: "Rei dos Medos, fomos enviados para que possas vingar a morte dada a vossos embaixadores em Esparta". Xerxes lhes respondeu que não ia cometer o mesmo crime e que nem com sua morte os libertaria da desonra.

Batalha das Termópilas

O poderoso exército de Xerxes I, estimado em 60 a 70 mil homens (a tradição grega diz que marchavam com milhões de homens), e melhor equipados que os anteriores, partiu em 480 a.C. "Levavam na cabeça uma espécie de sombreiro chamado tiara, de feltro de lã; ao redor do corpo, túnica; cobriam suas pernas com uma espécie de calças largas; em vez de escudos de metal levavam escudos de vime; lanças curtas, arcos grandes, flechas e punhais na cintura" (Homero).

Cruzaram o Helesponto e seguindo a rota da costa entraram na península. As tropas helênicas, que conheciam estes movimentos, decidiram detê-los ao máximo no desfiladeiro das Termópilas (que significa "portas quentes").

Neste lugar, o rei espartano Leônidas colocou cerca de trezentos soldados espartanos e mais mil de outras regiões. Xerxes enviou uma mensagem de aviso: "Entregue-se, espartano, minhas flechas serão tão numerosas que cobrirão o sol." Leônidas então respondeu: "Ótimo, então lutaremos na sombra". Após cinco dias de espera e vendo que sua superioridade numérica não intimidava o inimigo, os persas atacaram.

Naquele desfiladeiro tão estreito os persas não podiam usar sua famosa cavalaria, e sua superioridade numérica estava bloqueada, visto que suas lanças eram mais curtas que as gregas. O estreito fazia com que o combate fosse com similaridade numérica de combatentes, e não lhes coube senão regressar depois de dois dias de batalha.

Mas ocorreu que os gregos foram traídos por Efíaltes, que conduziu Xerxes através dos bosques para chegar pela retaguarda à saída das Termópilas. A proteção do caminho havia sido encomendada a mil foceus, que tinham excelentes posições defensivas, mas se acovardaram ante o avanço persa e fugiram. Ao saber da notícia, alguns gregos viram o inútil de sua situação e para evitar uma matança, Leônidas decidiu então deixar partir quem quisesse, ficando ele e seus espartanos firmes em seus postos.

Atacados, os espartanos sucumbiram depois de derramar muito sangue persa. Posteriormente se levantaria nesse lugar a inscrição: "Viajante, vê e diz a Esparta que morremos por cumprir com suas sagradas leis".

Batalha de Salamina

Com o passo das Termópilas liberado, toda a Grécia central estava aos pés do rei persa. Após a derrota de Leônidas, a frota grega abandonou suas posições em Eubeia e evacuou Atenas, buscando refúgio para as mulheres e os filhos nos arredores da ilha de Salamina. Desse lugar presenciaram o saque e incêndio da Acrópole pelas tropas dirigidas por Mardônio. Apesar disto, Temístocles tinha um plano: atrair a frota persa e forçar o combate (a batalha da Salamina), o que foi uma estratégia que sairia vitoriosa. Conta a lenda que Temístocles se fez passar por traidor ante o rei da Persa, incitando-o a uma vitória segura em Salamina, esta atitude sábia de Temístocles fez com que a Grécia vencesse a guerra.

A batalha naval deu-se no estreito que separa Salamina da Ática, no mês de setembro de 480 a.C. Após as vitórias na Tessália e em Termópilas, a devastação da Beócia e da Ática, o rei persa Xerxes entrou em Atenas, destruindo inclusive os monumentos da Acrópole, desenvolvendo aquela que ficou conhecida pela Segunda Guerra Médica.

Enquanto os coríntios e os espartanos defendiam uma aglomeração militar no istmo, Temístocles concentrou a frota de 200 embarcações (trirremes) na baía de Salamina, enfrentando a frota persa, que, apesar do seu maior número, tinha dificuldades evidentes de maneabilidade no espaço exíguo do estreito, pelo que é completamente derrotada pelos gregos. Xerxes foi obrigado a regressar à Ásia Menor, deixando o comando das tropas restantes ao seu lugar-tenente Mardónio.

O certo é que Xerxes I decidiu entravar o combate naval, utilizando um grande número de barcos, muitos deles de seus súditos fenícios. A frota persa não tinha coordenação ao atacar, enquanto que os gregos tinham mostrado sua estratégia: suas alas envolveriam os navios persas e os empurrariam uns contra os outros para privá-los de movimento. Seu plano resultou em um caos entre a frota persa, com terrível resultado: Alexandre e seus barcos se chocaram entre si, indo a pique muitos deles e contando ainda que os persas não eram bons nadadores, enquanto os gregos ao cair ao mar podiam nadar até a praia. A noite pôs fim ao combate, do qual se retirou destruída a outrora poderosa armada persa. Xerxes presenciou impotente a batalha, do alto de uma colina.

"Os helenos sabiam que quando chega a hora do combate, nem o número nem a majestade dos barcos nem os gritos de guerra dos bárbaros podem atemorizar os homens que sabem se defender corpo a corpo, e têm o valor de atacar o inimigo" (Plutarco)

Temístocles quis levar a guerra à Ásia Menor, enviando para lá a frota e sublevar as colônias jônicas contra o rei da Pérsia, mas Esparta se opôs, por temor de deixar desprotegido o Peloponeso.

Por estas razões, a guerra continuou na Europa, voltando o exército persa a invadir a Ática em 479 a.C.. Mardônio ofereceu a liberdade aos gregos se firmassem a paz, mas Licidas, o único membro do conselho de Atenas que votou por essa causa, foi apedrejado até a morte por seus companheiros. Desta forma, os atenienses souberam buscar refúgio novamente em Salamina, sendo incendiada sua cidade pela segunda vez.

Ao saber que o exército espartano (ameaçado pelos atenienses para que lhes dessem ajuda) se dirigia contra eles, os persas se retiraram até o Oeste, em Platéias. Dirigidos por seu regente Pausânias, conhecido por seu sangue frio, os espartanos conseguiram em 479 a.C. outra estrondosa vitória sobre os persas, capturando de uma vez um grande barco que estava esperando no acampamento persa. Provavelmente no mesmo dia da vitória em Plateia, ocorreu a vitória grega na batalha naval de Mícale, que foi também um sinal para o levantamento dos jônios contra seus opressores. Os persas se retiraram da Hélade, pondo assim fim aos sonhos de Xerxes I de conquistar o mundo helênico. Desta forma as Guerras Médicas, em que se enfrentaram pela primeira vez o Oriente e o Ocidente, chegaram ao fim.


Diante da necessidade de organizar a defesa e de equipar o exército, Atenas liderou a formação da Confederação de Delos, uma aliança entre várias cidades-estado gregas que deveriam contribuir com navios ou dinheiro nos gastos da guerra.