A
civilização maia foi uma cultura
mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita (único sistema de
escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o
idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo),
pela sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos.
Inicialmente
estabelecidas durante o período pré-clássico (1000 a.C. a 250 d.C.), muitas
cidades maias atingiram o seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o
período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se desenvolver durante
todo o período pós-clássico, até a chegada dos espanhóis. No seu auge, era uma
das mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas sociedades do mundo.
A
civilização maia compartilha muitas características com outras civilizações da
Mesoamérica, devido ao alto grau de interação e difusão cultural que
caracteriza a região. Avanços como a escrita, epigrafia e o calendário não se
originaram com os maias; no entanto, sua civilização se desenvolveu plenamente.
A influência dos maias pode ser detectada em países como Honduras, Guatemala,
El Salvador e na região central do México, a mais de 1 000 km da área maia.
Muitas influências externas são encontrados na arte e arquitetura Maia, o que
acredita-se ser resultado do intercâmbio comercial e cultural, em vez de
conquista externa direta.
Os
povos maias nunca desapareceram, nem na época do declínio no período clássico,
nem com a chegada dos conquistadores espanhóis e a subsequente colonização
espanhola das Américas. Hoje, os maias e seus descendentes formam populações
consideráveis em toda a área antiga maia e mantêm um conjunto distinto de
tradições e crenças que são o resultado da fusão das ideologias pré-colombianas
e pós-conquista (e estruturado pela aprovação quase total ao catolicismo
romano). Muitas línguas maias continuam a ser faladas como línguas primárias
ainda hoje; o Rabinal Achí, uma obra literária na língua achi, foi declarada
uma obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 2005. A arquitetura
maia era bastante desenvolvida e ostentava obras grandiosas, tecnicamente
qualificadas e com grande variedade e beleza de formas.
Ruínas de Tikal, Guatemala.
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Desde
2010, a teoria mais aceita é a de que os primeiros assentamentos claramente
maias foram estabelecidos por volta de 1800 a.C. na região de Soconusco, na
costa do Pacífico. Esse período, conhecido como o início do período
pré-clássico, foi caracterizado por comunidades sedentárias e com a introdução
de obras com cerâmica.
Entre
os locais mais importantes nas terras maias mais baixas do sul da Península de
Iucatã estão Nakbé, El Mirador, Cival e San Bartolo. Nas áreas mais altas da
Guatemala, a cidade de Kaminaljuyu surgiu por volta de 800 a.C. Por muitos
séculos, controlou as fontes de jade e obsidiana das regiões de Petén e e do
Pacífico. Os importantes sítios iniciais de Izapa, Takalik Abaj e Chocolá, em
torno de 600 a.C. eram os principais produtores de cacau. As comunidades maias
de médio porte também começaram a se desenvolver nas terras baixas maias do
norte durante o meio e o final do período pré-clássico, ainda que estas ainda
não tinham o tamanho, a escala e a influência dos grandes centros urbanos das
terras baixas do sul. Entre os dois sítios arqueológicos mais importantes do
norte pré-clássico estão Komchen e Dzibilchaltun. A primeira inscrição escrita
em hieróglifos maias também remonta a esse período (c. 250 a.C.).
Estudiosos
divergem sobre os limites que definem a extensão física e cultural do início da
civilização maia e das civilizações mesoamericanas pré-clássicas vizinhas, como
a cultura dos olmecas, os povos de línguas mixe-zoqueanas e zapotecas de
Chiapas e sul de Oaxaca, respectivamente. Muitos dos primeiros edifícios e
inscrições mais significativas apareceram nesta zona de sobreposição e as
evidências sugerem que essas culturas externas e os maias influenciaram a
formação um do outro.
Por
volta de 100 d.C, um declínio generalizado e abandono das cidades maias
ocorreu, o que ficou conhecido como "colapso do pré-clássico", o que
marcou o fim do período.
Período clássico
O
período clássico (c. 250-900 d.C.) foi um dos picos da construção em grande
escala e do urbanismo, com a gravação de inscrições em monumentos e um
desenvolvimento intelectual e artístico significativo, em particular nas
regiões de planície do sul.
As
pessoas desenvolveram uma civilização centrada em cidades e baseada na
agricultura, composta por várias cidades-Estados independentes entre si, mas
algumas subservientes a outras. Isto inclui cidades bem conhecidas, como El
Caracol, Tikal, Palenque, Copán, Xunantunich e Calakmul, mas também menos
conhecidas, como Lamanai, Dos Pilas, Cahal Pech, Uaxactun, Altun Ha e Bonampak,
entre outras. A distribuição dos assentamentos do início do período clássico
nas planícies do norte não é tão claramente conhecida como das regiões ao sul,
mas inclui uma série de centros populacionais, como Oxkintok, Chunchucmil e a
ocupação antecipada de Uxmal. Durante este período, a população maia chegava a
milhões. Eles criaram uma multidão de pequenos reinos e impérios, construíram
palácios e templos monumentais, cerimônias ritualísticas altamente sofisticadas
e desenvolveram um elaborado sistema de escrita hieroglífica.
O templo maia de Kukulcán
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A
base social dessa exuberante civilização era uma grande rede política e
econômica interligada que se estendia por toda a região maia e para além do
mundo mesoamericano. As unidades políticas, econômicas e culturais dominantes
"centrais" do sistema maia clássico estavam localizadas nas planícies
centrais, enquanto as correspondentes unidades maias dependentes ou
"periféricas" eram encontradas ao longo das margens do altiplano sul
e de áreas de várzea do norte. Mas, como em todos os sistemas do mundo, os
principais centros principais maias mudaram através do tempo, começando durante
a era pré-clássica em terras altas do sul, quando se deslocaram para as terras
baixas centrais durante o período clássico e, finalmente, quando mudaram para o
norte da península durante o período pós-clássico. Neste sistema político, as
unidades semi-periféricas maias geralmente tomavam a forma de centros
comerciais.
Os
monumentos mais notáveis são as pirâmides escalonadas que construíram em seus
centros religiosos e os palácios que abrigavam seus governantes. O palácio em
Cancuén é o maior em área feito pelos maias, mas o sítio arqueológico não tem
pirâmides. Outros vestígios arqueológicos importantes incluem lajes de pedra
esculpidas, geralmente chamados de estelas (os maias chamava tétum, ou
"árvore-pedra"), que retratam os governantes junto com textos hieróglifos
descrevendo sua árvore genealógica, vitórias militares e outras realizações.
A
civilização maia participava do comércio de longa distância com muitas das
outras culturas mesoamericanas, incluindo o povo da cidade de Teotihuacan, os
zapotecas e outros grupos na região central e do golfo da costa do atual
México. Além disso, eles mantinham comércio e intercâmbio com grupos mais
distantes, não mesoamericanas, por exemplo, os taínos das ilhas do Caribe.
Arqueólogos encontraram ouro do Panamá no Cenote Sagrado de Chichén Itzá. Bens
comerciais importantes incluíam o cacau, sal, conchas, jade e obsidiana.
Os
centros urbanos maias das terras baixas do sul entraram em declínio durante os
séculos VIII e IX e foram abandonados pouco tempo depois. Este declínio foi
associado com uma cessação das inscrições monumentais e da construção
arquitetônica em larga escala. A teoria universalmente aceita explica este
colapso.
Palácio de Palenque
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As
teorias não-ecológicas sobre o declínio maia são divididas em várias
subcategorias, como superpopulação, invasão estrangeira, revolta camponesa e
colapso de rotas comerciais importantes. As hipóteses ecológicas incluem
desastre ambiental, doenças epidêmicas e mudanças climáticas. Há evidências de
que a população maia ultrapassou a capacidade do ambiente a sua volta, com o
esgotamento do potencial agrícola do solo e a caça excessiva de megafauna.
Alguns estudiosos recentemente teorizaram que uma intensa seca de 200 anos na
região levou ao colapso da civilização maia. Esta teoria foi criada a partir de
pesquisas realizadas por cientistas que estudaram leitos de lagos, pólen antigo
e outros dados e não da comunidade arqueológica.
Pesquisas
de 2011, com o uso de modelos climáticos de alta resolução e novas
reconstruções de paisagens do passado, sugere que a conversão de grande parte
das florestas por áreas agrícolas maias pode ter levado a uma redução da
evapotranspiração e, portanto, de chuvas, o que pode ter ampliado a seca
natural. Um estudo publicado na revista Science em 2012 descobriu que reduções
modestas das precipitação, de apenas 25 a 40% da precipitação anual, podem ter
sido o ponto de inflexão para o colapso da civilização maia. Com base em
amostras de sedimentos do lago e cavernas nas áreas circundantes das principais
cidades maias, os pesquisadores foram capazes de determinar a quantidade de
precipitação anual na região. As secas leves que ocorreram entre 800 d.C. e 950
foram suficientes para reduzir rapidamente o suprimento de água. Uma outra
publicação na mesma revista apoia e estende essa conclusão com base em análise
de isótopos de minerais em uma estalagmite. Ela argumenta que a alta taxa de
pluviosidade entre 440 e 660 d.C. permitiu aos maias florescerem e que secas
leves nos anos seguintes levaram a uma extensa guerra e ao declínio da
civilização, um período prolongado de seca entre 1020 e 1100 acabou por ser
fatal.
Período pós-clássico
Durante
o período pós-clássico posterior (do século X ao início do século XVI), o
desenvolvimento dos centros das terras do norte persistiu, caracterizado por
uma crescente diversidade de influências externas. As cidades maias das
planícies do norte da Península de Iucatã continuou a florescer durante séculos
depois; alguns dos locais importantes nesta época eram Chichén Itzá, Uxmal,
Edzná e Coba. Após o declínio das dinastias de Chichen e Uxmal, Mayapan
governou toda Iucatã até uma revolta em 1450. (O nome desta cidade pode ser a
origem da palavra "maia", que tinha um significado mais
geograficamente restrito e só cresceu ao seu significado atual nos séculos XIX
e XX). A área então degenerou em cidades-Estado concorrentes até a península
ser conquistada pelo Império Espanhol.
Deus maia Jum Kaaah, divindade ligada à vida |
Os
povos maias itza, ko'woj e yalain de Petén Central sobreviveram ao
"colapso do período clássico" em pequenas quantidades e por volta de
1250 se reconstituíram para formar cidades-Estados concorrentes. Os itza
mantiveram sua capital em Tayasal (também conhecida como Noh Petén), um sítio
arqueológico que acredita-se ser subjacente à moderna cidade de Flores,
Guatemala, no Lago Petén Itzá. Ela governou sobre uma área que se estendia
através da região dos Lagos Petén, abrangendo a comunidade de Eckixil, no Lago
Quexil. Os ko'woj tinha sua capital em Zacpeten. Os Estados maias pós-clássicos
também continuaram a sobreviver nas terras altas do sul. Uma das nações maias
nesta área, o Reino de Gumarcaj, é responsável pelo trabalho mais conhecido da
historiografia e mitologia maia, o Popol Vuh. Outros reinos das terras altas
incluíam os povos mames, baseados em Huehuetenango; os kaqchikels, baseado em
Iximche; os chajoma, baseados em Mixco Viejo e os chuj, sediados em San Mateo
Ixtatán.
Conquista do Império Asteca e
Colonização espanhola da América
Pouco
depois de suas primeiras expedições à região, os espanhóis iniciaram uma série
de tentativas de subjugar os maias, que eram hostis ao domínio espanhol, e
estabeleceram uma presença colonial nos territórios maias da península de
Iucatã e nas terras altas da Guatemala. Esta campanha, às vezes chamada de
"conquista espanhola de Iucatã", viria a ser um exercício demorado e
custoso para os conquistadores desde o início e demandaria cerca de 170 anos e
dezenas de milhares de soldados indígenas antes de os espanhóis terem controle
substancial sobre todo o território maia.
Ao
contrário dos impérios inca e asteca, não havia um único centro político que,
uma vez derrubado, apressasse o fim da resistência coletiva dos povos maias. Em
vez disso, as forças dos conquistadores tiveram que subjugar as várias
entidades políticas independentes maias quase uma a uma, muitas das quais
mantiveram uma resistência feroz ao domínio espanhol. A maioria dos
conquistadores eram motivados pelas perspectivas de grande riqueza a ser obtida
a partir da apreensão de metais preciosos, como ouro ou prata; no entanto, os
maias eram pobres nesses recursos. Isto viria a ser um outro fator que
retardaria projetos espanhóis de conquista da região, já que os espanhóis
foram, inicialmente, atraídos para os relatos de grandes riquezas em outras
regiões: a região central do México e o Peru.
A
igreja e funcionários do governo espanhol destruíram textos maias e, com eles,
o conhecimento da escrita tradicional, mas, por acaso, três dos livros
pré-colombianos datados do período pós-clássico foram preservados. Estes são
conhecidos como Códice de Madrid, Códice de Dresden e Códice de Paris. Os
últimos Estados maias, a cidade itza de Tayasal e a cidade ko'woj de Zacpeten,
foram continuamente ocupados e mantiveram-se independentes do Império Espanhol
até o final do século XVII. Por fim, foram derrotados pelos espanhóis no ano de
1697.
Extensão geográfica da
civilização maia
A
civilização maia estendeu-se por todo o atual sul dos estados mexicanos de
Chiapas, Tabasco, e Península de Yucatán estados de Quintana Roo , Campeche e
Yucatán. A área Maia também se estendeu por todo o norte da América Central,
incluindo as atuais nações da Guatemala , Belize , Norte de El Salvador e no
oeste de Honduras.
A
área dos Maias é geralmente dividida em três zonas vagamente definidas: as
terras altas do sul Maia, na Depressão Central e as planícies do norte. As
terras maias altas do sul incluem todos os terrenos elevados na Guatemala e no
planalto de Chiapas. As planícies do sul encontram-se apenas ao norte do
planalto, e incorporam os estados mexicanos de Campeche, Quintana Roo, norte da
Guatemala, Belize e El Salvador. As planícies do norte cobrem o restante da
península de Iucatã, incluindo as colinas Puuc.
Economia
A
base econômica dos maias era a agricultura, principalmente do milho, praticada
com a ajuda da irrigação, utilizando técnicas rudimentares e itinerantes, o que
contribuiu para a destruição de florestas tropicais nas regiões onde habitavam,
desenvolveram também atividades comerciais cuja classe dos comerciantes gozavam
de grandes privilégios.
Como
unidade de troca, utilizavam sementes de cacau e sinetas de cobre, material que
empregavam também para trabalhos ornamentais, ao lado do ouro, da prata, do
jade, das conchas do mar e das plumas coloridas. Entretanto, desconheciam as
ferramentas metálicas[28].
Comércio e agricultura
Os
maias cultivavam o milho (três espécies), algodão, tomate, cacau, batata e
frutas. Domesticaram o peru e a abelha que serviam para enriquecer sua dieta, à
qual somavam também a caça e a pesca.
É
importante observar que por serem os recursos naturais escassos não lhes
garantindo o excedente que necessitavam a tendência foi desenvolverem técnicas
agrícolas, como terraços, por exemplo, para vencer a erosão. Os pântanos foram
drenados para se obter condições adequadas ao plantio. Ao lado desses
progressos técnicos, observamos que o cultivo de milho se prendia ao uso das
queimadas. Durante os meses da seca, limpavam o terreno, deixando apenas as
árvores mais frondosas. Em seguida, ateavam fogo para limpá-lo deixando o campo
em condições de ser semeado. Com um bastão faziam buracos onde se colocavam as
sementes.
Dada
a forma com que era realizado o cultivo a produção se mantinha por apenas dois
ou três anos consecutivos. Com o desgaste certo do solo, o agricultor era
obrigado a procurar novas terras. Ainda hoje a técnica da queimada, apesar de
prejudicar o solo, é utilizada em diversas regiões do continente americano.
Glifos maias
|
As
Terras Baixas concentraram uma população densa em áreas pouco férteis. Com
produção pequena para as necessidades da população, foi necessário não apenas
inovar em termos de técnicas agrícolas, como também importar de outras regiões
produtos como o milho, por exemplo.
O
comércio era dinamizado com produtos como o jade, plumas, tecidos, cerâmicas,
mel, cacau e escravos, através das estradas ou de canoas.
Ciência e tecnologia
Ainda
que as cidades maias estivessem dispersas na diversidade da geografia da
Mesoamérica, o efeito do planejamento parecia ser mínimo; suas cidades foram
construídas de uma maneira um pouco descuidada, como ditava a topografia e
declive particular. A arquitetura maia tendia a integrar um alto grau de
características naturais. Por exemplo, algumas cidades existentes nas planícies
de pedra calcária no norte do Iucatã se converteram em municipalidades muito
extensas enquanto que outras, construídas nas colinas das margens do rio
Usumacinta, utilizaram os declives e montes naturais de sua topografia para
elevar suas torres e templos a alturas impressionantes. Ainda assim prevalece
algum sentido de ordem, como é requerido por qualquer grande cidade.
No
começo da construção em grande escala, geralmente se estabelecia um alinhamento
com as direções cardinais e, dependendo do declive e das disponibilidades de
recursos naturais como água fresca (poços ou cenotes), a cidade crescia
conectando grandes praças com as numerosas plataformas que formavam os
fundamentos de quase todos os edifícios maias, por meio de calçadas chamadas
sacbeob (singular sacbe).
No
coração das cidades maias existiam grandes praças rodeadas por edifícios
governamentais e religiosos, como a acrópole real, grandes templos de pirâmides
e ocasionalmente campos de jogo de bola. Imediatamente para fora destes centros
rituais estavam as estruturas das pessoas menos nobres, templos menores e
santuários individuais. Entretanto, quanto menos sagrada e importante era a
estrutura, maior era o grau de privacidade. Uma vez estabelecidas, as
estruturas não eram desviadas de suas funções nem outras eram construídas, mas
as existentes eram frequentemente reconstruídas ou remodeladas.
As
grandes cidades maias pareciam tomar uma identidade quase aleatória, que
contrasta profundamente com outras cidades da Mesoamérica como Teotihuacán em
sua construção rígida e quadriculada.
Ainda
que a cidade se dispusesse no terreno na forma em que a natureza ditara, se
punha cuidadosa atenção à orientação dos templos e observatórios para que
fossem construídos de acordo com a interpretação maia das órbitas das estrelas.
Afora os centros urbanos constantemente em evolução, existiam os lugares menos
permanentes e mais modestos do povo comum.
O
desenho urbano maia pode descrever-se singelamente como a divisão do espaço em
grandes monumentos e calçadas. Neste caso, as praças públicas ao ar livre eram
os lugares de reunião para as pessoas. Por esta razão, o enfoque no desenho
urbano tornava o espaço interior das construções completamente secundário.
Somente no período pós-clássico tardio, as grandes cidades maias se converteram
em fortalezas que já não possuíam, a maioria das vezes, as grandes e numerosas
praças do período clássico.
Matemática
Os
maias (ou seus predecessores olmecas) desenvolveram independentemente o
conceito de zero (de fato, parece que estiveram usando o conceito muitos
séculos antes do velho mundo), e usavam um sistema de numeração de base 20.
As
inscrições nos mostram, em certas ocasiões, que trabalhavam com somas de até
centenas de milhões. Produziram observações astronômicas extremamente precisas;
seus diagramas dos movimentos da Lua e dos planetas se não são iguais, são
superiores aos de qualquer outra civilização que tenha trabalhado sem
instrumentos óticos. Ao encontro desta civilização com os conquistadores
espanhóis, o sistema de calendários dos maias já era estável e preciso,
notavelmente superior ao calendário gregoriano.
Sistema de escrita
O
sistema de escrita maia (geralmente chamada hieroglífica por uma vaga
semelhança com a escrita do antigo Egito, com o qual não se relaciona) era uma
combinação de símbolos fonéticos e ideogramas. É o único sistema de escrita do
novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado
no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo.
As
decifrações da escrita maia têm sido um longo e trabalhoso processo. Algumas
partes foram decifradas no final do século XIX e início do século XX (em sua
maioria, partes relacionadas com números, calendário e astronomia), mas os
maiores avanços se fizeram nas décadas de 1960 e 1970 e se aceleraram daí em
diante de maneira que atualmente a maioria dos textos maias podem ser lidos
quase completamente em seus idiomas originais. Lamentavelmente, os sacerdotes
espanhóis, em sua luta pela conversão religiosa, ordenaram a queima de todos os
códices maias logo após a conquista.
Assim,
a maioria das inscrições que sobreviveram são as que foram gravadas em pedra e
isto porque a grande maioria estava situada em cidades já abandonadas quando os
espanhóis chegaram.
Os
livros maias, normalmente tinham páginas semelhantes a um cartão, feitas de um
tecido sobre o qual aplicavam uma película de cal branca sobre a qual eram
pintados os caracteres e desenhadas ilustrações. Os cartões ou páginas eram
atadas entre si pelas laterais de maneira a formar uma longa fita que era
dobrada em zigue-zague para guardar e desdobrada para a leitura.
Atualmente,
restam apenas três destes livros e algumas outras páginas de um quarto, de
todas as grandes bibliotecas então existentes. Frequentemente, são encontrados,
nas escavações arqueológicas, torrões retangulares de gesso que parecem ser
restos do que fora um livro depois da decomposição do material orgânico.
Relativamente
aos poucos escritos maias existentes, Michael D. Coe, um proeminente arqueólogo
da Universidade de Yale, disse:
“Nosso conhecimento do pensamento
maia antigo representa só uma minúscula fração do panorama completo, pois dos
milhares de livros nos quais toda a extensão dos seus rituais e conhecimentos
foram registrados, só quatro sobreviveram até os tempos modernos (como se toda
a posteridade soubesse de nós, baseados apenas em três livros de orações e
"El Progreso del Peregrino).”
Cultura
Artes
Muitos
consideram a arte maia da Era Clássica (200 a 900 d.C.) como a mais sofisticada
e bela do Novo Mundo antigo. Os entalhes e relevos em estuque de Palenque e a
estatuária de Copán são especialmente refinados, mostrando uma graça e
observação precisa da forma humana, que recordaram aos primeiros arqueólogos da
civilização do Velho Mundo, daí o nome dado à era.
Somente
existem fragmentos da pintura avançada dos maias clássicos, a maioria
sobrevivente em artefatos funerários e outras cerâmicas. Também existe uma
construção em Bonampak que tem murais antigos e que, afortunadamente,
sobreviveram a um acidente desconhecido até hoje.
Com
as decifrações da escrita maia se descobriu que essa civilização foi uma das
poucas nas quais os artistas escreviam seu nome em seus trabalhos.
Religião
Pouco
se sabe a respeito das tradições religiosas dos maias: a sua religião ainda não
é completamente entendida por estudiosos. Assim como os astecas e os incas, os
maias acreditavam na contagem cíclica natural do tempo. Os rituais e cerimônias
eram associados a ciclos terrestres e celestiais que eram observados e
registrados em calendários separados. Os sacerdotes maias tinham a tarefa de
interpretar esses ciclos e fazer um panorama profético sobre o futuro ou
passado com base no número de relações de todos os calendários. A purificação
incluia jejum, abstenção sexual e confissão. A purificação era normalmente
praticada antes de grandes eventos religiosos. Os maias acreditavam na
existência de três planos principais no cosmo: a Terra, o céu e o submundo.
Os
maias sacrificavam humanos e animais como forma de renovar ou estabelecer
relações com o mundo dos deuses. Esses rituais obedeciam diversas regras.
Normalmente, eram sacrificados pequenos animais, como perus e codornas, mas nas
ocasiões muito excepcionais (tais como adesão ao trono, falecimento do monarca,
enterro de algum membro da família real ou períodos de seca) aconteciam
sacrifícios de humanos. Acredita-se que crianças eram vítimas muitas vezes
oferecidas como sacrifícios, porque os maias acreditavam que essas eram mais
puras.
Os
deuses maias não eram entidades separadas como os deuses gregos. Também não
existia a separação entre o bem e o mal e nem a adoração de somente um deus
regular, mas sim a adoração de vários deuses conforme a época e situação que
melhor se aplicava para aquele deus.
Arquitetura maia
A
arquitetura maia abarca vários milênios; ainda assim, mais dramática e
facilmente reconhecíveis como maias são as fantásticas pirâmides escalonadas do
final do período pré-clássico em diante. Durante este período da cultura maia,
os centros de poder religioso, comercial e burocrático cresceram para se tornarem
incríveis cidades como Chichén Itzá, Tikal e Uxmal. Devido às suas muitas
semelhanças assim como diferenças estilísticas, os restos da arquitetura maia
são uma chave importante para o entendimento da evolução de sua antiga
civilização.
Um
aspecto surpreendente das grandes estruturas maias é a carência de muitas das
tecnologias avançadas que poderiam parecer necessárias a tais construções. Não
há notícia do uso de ferramentas de metal, polias ou veículos com rodas. A
construção maia requeria um elemento com abundância, muita força humana, embora
contasse com abundância dos materiais restantes, facilmente disponíveis.
Todas
as evidências parecem sugerir que a maioria dos edifícios foi construída sobre
plataformas aterradas cuja altura variava de menos de um metro, no caso de
terraços e estruturas menores, a até quarenta e cinco metros, no caso de
grandes templos e pirâmides. Uma trama inclinada de pedras partia das
plataformas em pelo menos um dos lados, contribuindo para a aparência
bi-simétrica comum à arquitetura maia. Dependendo das tendências estilísticas
que prevaleciam na área e época, estas plataformas eram construídas de um corte
e um aterro de entulhos densamente compactado. Como no caso de muitas outras
estruturas, os relevos maias que os adornavam, quase sempre se relacionavam com
o propósito da estrutura a que se destinavam. Depois de terminadas, as grandes
residências e os templos eram construídos sobre as plataformas. Em tais
construções, sempre erguidas sobre tais plataformas, é evidente o privilégio
dado ao aspecto estético exterior em contraponto à pouca atenção à utilidade e
funcionalidade do interior.
Parece
haver um certo aspecto repetitivo quanto aos vãos das construções nos quais os
arcos (como curvas) são raros, mas frequentemente retos, angulados ou
imbricados, tentando mais reproduzir a aparência de uma cabana maia, do que
efetivamente incrementar o espaço interior. Como eram necessárias grossas
paredes para sustentar o teto, alguns edifícios das épocas mais posteriores
utilizaram arcos repetidos ou uma abóbada arqueada para construir o que os
maias denominavam pinbal, ou saunas, como a do Templo da Cruz em Palenque.
Ainda que completadas as estruturas, a elas iam-se anexando extensos trabalhos
de relevo ou pelo menos reboco para aplainar quaisquer imperfeições. Muitas
vezes sob tais rebocos foram encontrados outros trabalhos de entalhes e dintéis
e até mesmo pedras de fachadas. Comumente a decoração com faixas de relevos era
feita em redor de toda a estrutura, provendo uma grande variedade de obras de
arte relativas aos habitantes ou ao propósito do edifício. Nos interiores, e
notadamente em certo período, foi comum o uso de revestimentos em reboco
primorosamente pintados com cenas do uso cotidiano ou cerimonial.